Carta de Novembro
AGENTES DE PASTORAL NEGROS
Conscientização, Organização, Fé e Luta
Fundado em 14/03/1983
CARTA MENSAL
São Paulo, 01 de novembro de 2012
Companheiros(as) de Fé e Luta, minha saudação amiga e fraterna.
Os últimos acontecimentos envolvendo as declarações do Pai Paulo Cesar de Ribeirão Preto sobre mim, veiculadas nas redes sociais nos últimos dias, nos dá brecha para uma importante reflexão sobre o tema.
Ao longo daqueles dias fui acompanhando as diversas manifestações em várias redes e analisando cada uma delas.
Um dos trechos da manifestação do então senhor Paulo Cesar dizia o seguinte: “O que nos intriga é, sabedora que a cultura negra é de matriz africana, o que levou a atual gestão da Palmares a escolher um Cristão APN para representá-la no Estado de São Paulo?”.
Esse pensamento em especial me fez avaliar o quanto nossa entidade precisa mudar de paradigma, avançar na defesa de seus princípios norteadores, o que nos torna ativos há quase 30 anos.
O juízo de valores acima mencionado não só agride a minha pertença religiosa mas, sobretudo, fere a história de uma entidade que ajudou a construir uma agenda de ações afirmativas, fez opção pelas religiões de matriz africana, agregou vários desagregados ao longo dos anos e por ai segue.
O que importa de fato é que para defender os povos tradicionais, a religiosidade de matriz africana e defender a luta do negro contra a opressão racial devemos exigir que a convicção religiosa não seja base para definição de critérios para assumir cargos e sim estar convictos da opção escolhida. Eu já fiz a minha!
Os APNs estão em uma caminhada de construção coletiva desde 1983 e vêm avançando a cada década, e neste sentido temos uma agenda muito concreta para deslumbrar para os próximos anos dentro do nosso Plano de Ação elaborado no Congresso de Goiânia.
Nossa missão é anunciar a todos e por todos os meios que os APNs do Brasil é uma entidade de conscientização, organização, luta pela democracia racial, mas também empenhada no despertar da fé e negritude. Somos empenhados em revelar ao mundo o verdadeiro rosto negro de Cristo, o nosso Olorum.
Tenho evitado algumas polêmicas internas no movimento negro por considerar que há espaço para alteridade. O racismo no Brasil tem uma longeva história. Nossa agenda tem se intensificado a cada dia no sentido de estagnar esse mal.
A unidade na diversidade deve ser uma das bandeiras do movimento negro, dos APNs e de todos os que acreditam na transformação social.
Não me estremeço diante dos conflitos de idéias, embora eu saiba o quanto eles podem ser prejudiciais a uma carreira ou imagem pública. Temos que ter sempre a certeza de que os conflitos também servem para unir as forças e seguir mantendo sempre vivo os ideais da nossa organização, objetivo da nossa luta e da defesa cotidiana.
Vida longa aos APNs com respeito a sua história!
Nuno Coelho
Coordenador Nacional